Avisto da janela deste escritório onde me encontro aquilo que é o “resto” da Serra de Aire e Candeeiros. Não se pode considerar uma bela vista pois é uma imagem que nem é serra, nem é mar, nem é campo. Seria natural e bonita, esta serra, esta observação minha, senão tivesse torres eólicas espalhadas por toda à parte, que apesar de serem úteis – atenção que sou totalmente pró – ambiente - não jogam nada a favor da natureza e de qualquer quadro paisagístico que podemos contemplar por este país acima/abaixo.
Em primeiro plano vejo um parque de cimento, por vezes cheio de veículos, por vezes vazio mas que nada me diz. Mais além casas, e quando faço uso do meu zoom ocular, aparece-me então esse fragmento de serra com umas antenas no topo, que feio, a sério. É melhor não olhar, longe da vista, longe do coração.
Quando se tem a mínima noção da estética percebe-se o valor da arquitectura, do planeamento, do ordenamento do território. As construções de cimento têm de ser pensadas e enquadradas no espaço e no momento.
Ele há quem prefira o campo ou quem prefira a cidade, eu sou daquelas que prefere a cidade, apesar de ter vivido apenas quatro meses na capital, senti-me bem por lá. Gostei da rotina diária, do ter tudo, mas mesmo tudo à mão (o mal e o bem), ir ao Lux, ao Bairro alto, ao Saldanha, aos cinemas com mais de dez filmes em exibição (imaginem só os termos de comparação a que chego), o casa-trabalho-trabalho-casa, que também sabe bem. Posso dizer: a cidade é um objectivo que não está terminado. Mais não seja para ter uma vista de um qualquer escritório para uma fila de trânsito gigantesca, e um qualquer fim-de-semana recolher-me na pequenez da minha terra linda, só para ter aquele gostinho de seguida valorizar o que tive e não tenho, ou seja, a calmaria das localidades mais pequenas.
Na verdade tudo tem os seus prós e os seus contras. Acho que depende sobretudo das diferentes etapas da vida, daquilo que procuramos. Compreendo aqueles que gostam da pacatez de uma pequena aldeia, pouco identificável nos google earth e maps, os que se repudiam, quase, quando falamos em grandes centros urbanos: ter de me levantar de madrugada para chegar ao trabalho? Isso é perder qualidade de vida. Sim é, mas então e viver num lugar onde é mais fácil cruzarmo-nos com animais de estimação ou com seniores do que com gente da nossa geração? Os prós: as idas ao café de fim-de-semana.
Lá fora continua um clima frio, as mãos enrijecem, os músculos da cara tonificam ao contactar com o ar. Respiro fundo porque o ar que vem de dentro, esse, é quente. O escritório continua o mesmo, a vista para o monte também. O meu espírito de fim-de-semana contrasta com a cor acinzentada das nuvens, que dão lugar às mais esbranquiçadas à medida que a terra se movimenta. Meto a primeira e parto. Primeira paragem, ginásio (é bom e faz bem a pele), segunda jantarzinho e se tiver tempo ainda pinto as unhas com verniz da risqué escuro. Preparo as prendas para o aniversário do afilhado, ou seja, os sacos da Modalfa cheios de roupa e ainda um dvd que vinha com o SOL da semana passada, meto-me no carro para só pará-lo em casa do pequenote. Seis anos: uma idade mágica, vem a escola, os primeiros amigos, a primeira namorada, os TPC´s, confesso, sou uma madrinha babadíssima. Bolo? Espero que não haja para bem da minha dieta de açúcar. E a propósito, já dizia Margarete Tatcher, o comer em excesso faz com que o estômago trabalhe em vez do cérebro.
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